sexta-feira, 22 de agosto de 2008
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
CONVIDADOS AO EXERCÍCIO DA NEGOCIAÇÃO, quatro duplas de artistas pintores colocam à prova suas intenções artísticas e seus limites criativos ao participar da segunda edição do Programa Série Duplas, na Galeria do Lago. O ponto de partida para esta empreitada foi a pintura mural que decora o Salão Amarelo no Palácio do Catete, feita a quatro mãos, em 1897, por Antônio Parreiras e Décio Villares. Conta-se que a pressa para inaugurar a sede da nova República levou os artistas a improvisarem a pintura no local do espelho que se quebrou na última hora. A experiência de parcerias no campo das artes visuais, pouco comum nessa época, é hoje, para muitos artistas, um desafio às exigências de suas individualidades. Nestes fragmentos de suas conversas, cada dupla de artistas questiona-se entre si, revelando aspectos subjetivos de seus trabalhos
Martha Niklaus | curadora da Galeria do Lago
ANA RONDON | JEAN-BAPTISTE DÉCHERY
ANA RONDON | Em nossas visitas ao Museu adorei o Salão Mourisco, sinto uma identificação visual muito grande, mais do que com o jardim. Jean, o que mais te motiva nesse projeto de apropriação de um elemento do Museu? Qual a sua relação com este espaço?
JEAN | Sempre gostei muito da arte islâmica, acho revolucionária a idéia de uma arte independente de imagens. Também tenho uma ligação com o jardim, aonde ia muito com meu filho. Fotografei aqueles patos várias vezes, o que gerou uns trabalhos legais com fotografia manipulada. Com relação ao prédio, fiquei sempre imaginando as pessoas vivendo ali num misto de lar e espaço institucional. Algo de uma sensação de claustro.
Ana, como é o seu processo de criação?
ANA RONDON | Três coisas me mobilizam na pintura. Cor, matéria e processo. Trabalho com acúmulo de camadas de tintas muito finas, no limite do rarefeito. Meu vocabulário está associado às formas da natureza e da anatomia humana, no sentido macro ou micro. Meu processo atual é com a água. As tintas são muito fluidas, retiro o excesso com jornal, é uma impressão às avessas. Muitas vezes lavo a tela após pintar e sobram só alguns registros.
CÁSSIA CASTRO | NI DA COSTA
CÁSSIA | Você acha que as imagens que você usa parecem de alguma forma com padrões geométricos? Me parece que os pés, por exemplo, são bilaterais, assim como rostos. Isso pode ser uma sugestão de geometria?
NI | Pensando sobre o aspecto da bilateralidade, acho que sim, mas não consigo ver rostos como geométricos, acho que se fizermos uma brincadeira de repetir e espelhar podemos criar padrões, mas não geometria. Em seus trabalhos mais antigos você utilizava imagens mais orgânicas, como células. Quando começou o seu interesse pelos padrões?
CÁSSIA | Me interessei pelos padrões quando comecei a estudar Sufismo. No início achei apenas bonito, e depois, me aprofundando mais, descobri que havia toda uma ciência por trás desses padrões, que não são de forma alguma aleatórios. É uma ciência bem sofisticada, e estou apenas “arranhando” esses significados. Também gosto de ver a semelhança entre a estrutura celular e a dos padrões.
ANDREA CANTO | NILTON PINHO
NILTON | Qual o simbolismo da cadeira em seu trabalho?
ANDREA | Tudo começa com um Matisse escondido na minha cabeça e que fez parte da minha infância, num pôster que me olhou da sala durante anos, e mais tarde os impressionistas, Van Gogh, Rodrigo Andrade, Luc Tuymans... e se relaciona com a idéia simbólica e afetiva da casa, da infância, a ausência e a presença.
O seu trabalho tem um olhar irônico, às vezes engraçado, sobre um assunto mais ou menos objetivo. Como surgiu isso?
NILTON | Sou daqueles que preferem perder o amigo a perder a piada. Pode existir, sim, um olhar irônico e bem-humorado em alguns trabalhos, que seria minha avaliação crítica de situações da vida. Às vezes, o que determina isso é o próprio material, no caso dos objetos. Mas meu primeiro interesse é estético, plástico, isto é, o fazer da coisa. O conceito vem depois.
PATRICIA NORMAN | ANA HERTER
PATRICIA NORMAN | Voltando da reunião, lembrei de um livro curioso (What painting is, de James Elkins), uma analogia entre alquimia e pintura, em que a pintura é vista como o resultado de uma negociação entre água e pedra (a matéria e seus estados), e que ressalta também que toda pintura guarda a memória do seu fazer. Faz sentido para você?
ANA HERTER | Você falou em coisas pertinentes. Uma palavra que me chamou atenção foi “negociação”. Estamos sempre negociando com a matéria. Agora teremos que negociar uma com a outra. Negociaremos nossa percepção, nossa matéria, nossas memórias. É difícil começar, mas coisas interessantes vão aparecer com o desenrolar do trabalho.
Martha Niklaus | curadora da Galeria do Lago
ANA RONDON | JEAN-BAPTISTE DÉCHERY
ANA RONDON | Em nossas visitas ao Museu adorei o Salão Mourisco, sinto uma identificação visual muito grande, mais do que com o jardim. Jean, o que mais te motiva nesse projeto de apropriação de um elemento do Museu? Qual a sua relação com este espaço?
JEAN | Sempre gostei muito da arte islâmica, acho revolucionária a idéia de uma arte independente de imagens. Também tenho uma ligação com o jardim, aonde ia muito com meu filho. Fotografei aqueles patos várias vezes, o que gerou uns trabalhos legais com fotografia manipulada. Com relação ao prédio, fiquei sempre imaginando as pessoas vivendo ali num misto de lar e espaço institucional. Algo de uma sensação de claustro.
Ana, como é o seu processo de criação?
ANA RONDON | Três coisas me mobilizam na pintura. Cor, matéria e processo. Trabalho com acúmulo de camadas de tintas muito finas, no limite do rarefeito. Meu vocabulário está associado às formas da natureza e da anatomia humana, no sentido macro ou micro. Meu processo atual é com a água. As tintas são muito fluidas, retiro o excesso com jornal, é uma impressão às avessas. Muitas vezes lavo a tela após pintar e sobram só alguns registros.
CÁSSIA CASTRO | NI DA COSTA
CÁSSIA | Você acha que as imagens que você usa parecem de alguma forma com padrões geométricos? Me parece que os pés, por exemplo, são bilaterais, assim como rostos. Isso pode ser uma sugestão de geometria?
NI | Pensando sobre o aspecto da bilateralidade, acho que sim, mas não consigo ver rostos como geométricos, acho que se fizermos uma brincadeira de repetir e espelhar podemos criar padrões, mas não geometria. Em seus trabalhos mais antigos você utilizava imagens mais orgânicas, como células. Quando começou o seu interesse pelos padrões?
CÁSSIA | Me interessei pelos padrões quando comecei a estudar Sufismo. No início achei apenas bonito, e depois, me aprofundando mais, descobri que havia toda uma ciência por trás desses padrões, que não são de forma alguma aleatórios. É uma ciência bem sofisticada, e estou apenas “arranhando” esses significados. Também gosto de ver a semelhança entre a estrutura celular e a dos padrões.
ANDREA CANTO | NILTON PINHO
NILTON | Qual o simbolismo da cadeira em seu trabalho?
ANDREA | Tudo começa com um Matisse escondido na minha cabeça e que fez parte da minha infância, num pôster que me olhou da sala durante anos, e mais tarde os impressionistas, Van Gogh, Rodrigo Andrade, Luc Tuymans... e se relaciona com a idéia simbólica e afetiva da casa, da infância, a ausência e a presença.
O seu trabalho tem um olhar irônico, às vezes engraçado, sobre um assunto mais ou menos objetivo. Como surgiu isso?
NILTON | Sou daqueles que preferem perder o amigo a perder a piada. Pode existir, sim, um olhar irônico e bem-humorado em alguns trabalhos, que seria minha avaliação crítica de situações da vida. Às vezes, o que determina isso é o próprio material, no caso dos objetos. Mas meu primeiro interesse é estético, plástico, isto é, o fazer da coisa. O conceito vem depois.
PATRICIA NORMAN | ANA HERTER
PATRICIA NORMAN | Voltando da reunião, lembrei de um livro curioso (What painting is, de James Elkins), uma analogia entre alquimia e pintura, em que a pintura é vista como o resultado de uma negociação entre água e pedra (a matéria e seus estados), e que ressalta também que toda pintura guarda a memória do seu fazer. Faz sentido para você?
ANA HERTER | Você falou em coisas pertinentes. Uma palavra que me chamou atenção foi “negociação”. Estamos sempre negociando com a matéria. Agora teremos que negociar uma com a outra. Negociaremos nossa percepção, nossa matéria, nossas memórias. É difícil começar, mas coisas interessantes vão aparecer com o desenrolar do trabalho.